Então, fui
apresentada, oficialmente, para a minha nova rotina.
Chego na UTI logo cedo, um pouco
mais disposta, com menos dor, cheia de lisador, para enfrentar essa jornada que
iniciava.
Aprendi
as regras para chegar até meus filhos: a porta ficava trancada, com interfone
que só abria após identificação. Os pais, podiam visitar o dia inteiro, sem
restrições, familiares ou amigos, apenas nos horários destinados à visita, com
um limite de duas pessoas por horário. Chegando lá, precisávamos de um super
cuidado com higiene, pois as crianças estão mais suscetíveis à infecções. Na
entrada, um armário para cada mãe, onde deixamos nossos pertences e recebemos
nossa chave. Lá dentro, avental e máscara (máscara, para quem estava com bebê que necessitava de mais precações), que eram trocados todos os dias. As
mãos e braços também precisavam de cuidado extra: lavávamos duas vezes e
desinfetar com álcool em gel. Só então, poderíamos seguir para o leito.
Logo
na entrada, um novo procedimento com álcool em gel, que deveríamos passar ainda
várias vezes ao dia, afinal, todo cuidado é pouco. As enfermeiras prontamente
nos ensinam a abrir as incubadoras com o cotovelo, para não infectar a mão com
nada.
Enfim,
cheguei até eles. Como disse no texto anterior, fui direto ao prontuário. Assim
como recém-nascido que nasce a termo, os meus também tinham perdido alguns
gramas, mas no caso dele, me preocupava, já que eram bem magrinhos. Fiquei
tranquila, quando a médica me passou todos os diagnósticos e boletim das condições
deles, exceto quando cheguei até a Laura (a terceira a nascer, com o segundo
melhor peso – 1340kg). A válvula do coração não havia fechado ainda, por isso
ela não poderia receber leite. Quando perguntava qual era o problema dela, uma
resposta que sempre me deixou MUITO irritada: Mãe (porque nos chamam de
mãe??????), ela só é mais cansadinha.
Sério,
que com tantos anos de estudo e especialização, responsável por uma UTI neo,
essa era a melhor resposta que ela poderia me dar? Cansadinha do que, porque??
Sim,
essa era a melhor resposta, mas não aceitamos isso. A médica tinha tudo sob controle e não queria me preocupar, então, adotou o cansadinha. Neste caso,
cansadinha fiquei eu, de ouvir coisas desse tipo, mas sei que ela estava certa.
(NAS FOTOS, A IDENTIFICAÇÃO DE CADA UM, SOBRE A INCUBADORAS, QUE ALÉM DOS NÚMEROS, ERAM DIFERENCIADOS POR RN 1, 2, 3, 4, POR ORDEM DE NASCIMENTO)
A
manhã toda fiquei por lá, meio sem saber o que fazer, como lidar com aquilo, se
poderia tocá-los, perguntando tudo para as enfermeiras, que ainda eram
estranhas para mim, mas que já tinham muito mais contato com os meus filhos. Era
um sentimento bem estranho, como se eles não fossem meus. Não tinha nenhuma
intimidade, nem criado algum vínculo tão intenso, como as outras mães relatam
que desperta, na hora do parto.
Me questionava sobre esse tal botão que aciona nas mães, mas para o meu alívio, depois de um tempo descobri que a maioria diz a mesma coisa que eu, que não sentiu esse amor maior do mundo, assim que ouviu o primeiro choro. UFA!!! Esse amor cresce dia a dia, a ponto de não caber no nosso peito, mas naquela hora, vivi APENAS uma grande emoção!Mais um sentimento diferente do que imaginava que teria: não fiquei o dia inteiro lá, ninguém precisou me orientar a sair para dar uma volta, respirar ou me distrair um pouco. Simplesmente olhei, olhei, fiquei por algumas horas e voltei para o quarto. Estava tranquila quanto a condição deles, apenas preocupada com esse “tal cansaço” da Laura, mas não tinha nada que eu pudesse fazer. Não podia pegá-los, apenas tocá-los pelo buraquinho.
Voltei
para o quarto com o coração calmo, sem culpa por não ficar lá o dia inteiro,
como percebi que algumas mães faziam, simplesmente segui meu coração. Um dia de
cada vez, o instinto já estava me mostrando que eu precisaria seguir meu
coração e andar com as minhas pernas, pois dificilmente encontraria pessoas
para me orientar em como lidar com quadrigêmeos. A jornada seria longa,
precisava estar forte, calma, sem culpa e com muita fé. Foi isso que eu fiz!
Tempo
pra mim! Aprendi isso logo no primeiro dia, ainda bem. Eu também iria precisar
de tempo para mim.
Mães,
aprendam isso, não se culpem, vocês existiam antes da maternidade e precisam
existir para ter saúde, disposição, bom humor para cuidar dos seus filhotes. O
tempo para a mãe é precioso, não é errado, negligência, falta de amor: é se preparar
para dar muito mais de si para eles.
Mães
felizes, criam filhos felizes!!!
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